O uso do crédito no Brasil tem crescido de forma surpreendente em 2025, mesmo com taxas de juros ainda elevadas e uma inflação que não dá sinais de alívio total. Essa contradição levanta uma pergunta essencial: por que os brasileiros estão usando mais o cartão de crédito, parcelamentos e empréstimos, mesmo com o custo tão alto?
Crédito em alta: o que dizem os números?
Segundo levantamento do Banco Central, o volume total de crédito concedido às famílias aumentou 10,3% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024. Já o uso do cartão de crédito registrou um salto de 14%, atingindo novo recorde de transações parceladas. Esse cenário revela como o uso do crédito continua sendo uma válvula de escape para o consumo das famílias.
De acordo com a Agência Brasil, mesmo com os juros do rotativo atingindo 445% ao ano, o crédito segue em expansão.
Por que o crédito ainda é tão utilizado?
Existem três principais razões que explicam o aumento do uso do crédito mesmo em tempos de juros altos:
- Reposição de renda: a inflação acumulada dos últimos anos corroeu o poder de compra, levando muitas famílias a usarem o cartão como extensão da renda;
- Facilidade de acesso: bancos e fintechs aumentaram a oferta de crédito, mesmo para quem tem restrições leves;
- Hábito de parcelamento: o consumidor brasileiro já está acostumado a comprar parcelado, muitas vezes sem fazer o cálculo do custo total da operação.
Parcelamento x juros: a armadilha invisível
O parcelamento sem juros continua sendo um grande atrativo, mas esconde um problema: muitos consumidores se acumulam em várias parcelas e perdem o controle do orçamento. Quando a fatura chega, o valor ultrapassa o planejado — e é aí que entra o rotativo, com taxas que ultrapassam 400% ao ano.
O uso do crédito sem planejamento pode parecer vantajoso no curto prazo, mas compromete o orçamento futuro e aumenta o risco de inadimplência. O crescimento do crédito deve vir acompanhado de educação financeira, caso contrário, vira uma armadilha silenciosa.
Fintechs e bancos incentivam o consumo
Com foco em aumentar o faturamento e conquistar clientes, instituições financeiras continuam ofertando crédito fácil — inclusive por aplicativos e redes sociais. Essa oferta vem acompanhada de limites elevados e sugestões automáticas de parcelamento, estimulando ainda mais o comportamento de consumo impulsivo e o uso do crédito desenfreado.
O que isso representa para a economia?
O crescimento do crédito é positivo para o comércio e para a movimentação da economia no curto prazo. No entanto, se não for acompanhado por crescimento da renda e educação financeira, o efeito pode ser reverso: aumento do endividamento e retração no consumo futuro.
De fato, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio), 79,8% das famílias brasileiras estavam endividadas em março de 2025. A taxa de inadimplência segue em alta — um sinal de alerta para o mercado e para o governo sobre os riscos do uso do crédito descontrolado.
Como usar o crédito com responsabilidade
Apesar dos riscos, o crédito pode ser um aliado se bem utilizado. Algumas dicas para manter o controle:
- Evite parcelar mais de 30% da sua renda mensal;
- Faça um planejamento prévio antes de comprometer o cartão;
- Priorize o pagamento à vista ou parcelamentos curtos com valor fixo;
- Evite pagar apenas o mínimo da fatura — o rotativo é um dos mais caros do mercado;
- Mantenha uma planilha atualizada com todas as dívidas e compromissos financeiros.
O que fazer se já está endividado?
Se você já está com dificuldades para manter os pagamentos em dia, procure negociar. Muitas instituições oferecem condições especiais de renegociação. Além disso, busque orientação financeira e revise seus gastos.
Evite pegar novos empréstimos para pagar dívidas antigas — esse ciclo pode agravar ainda mais a situação. O mais importante é entender que o uso do crédito precisa estar dentro de um planejamento e não como substituto da renda.
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O crescimento do uso do crédito em 2025 mostra que o brasileiro continua confiando nesse recurso, mesmo com juros altos. A chave está em usar com inteligência, evitar excessos e manter sempre um planejamento firme para não transformar o crédito em armadilha.